O encontro de educadores participantes da Pedagogia da Imagem, no dia 26 de maio, trouxe uma discussão importante para nossa reflexão sobre o uso ético da fotografia, mais especificamente, de retratos de pessoas. Estávamos prestes a sair para um passeio fotográfico na rua Treze de Maio, quando alguém colocou a questão (sempre emergente): "Podemos fotografar as pessoas na rua ou precisamos de sua autorização?"
A questão pede uma definição clara, mas talvez as coisas não sejam colocadas facilmente em preto-e-branco. O problema gera dúvidas sempre que alguém empunha uma câmera e divide a opinião geral, entre os que defendem a privacidade e o direito à imagem e os que acreditam na liberdade de produzir e difundir imagens, especialmente de espaços públicos. Não se trata de tomar uma posição contra ou a favor de um ou outro argumento, mas de refletir sobre as relações que estabelecemos com o outro (também sujeito e agente de direitos, assim como nós) quando estamos atrás das lentes.
Em primeiro lugar, trata-se de saber o nosso objetivo: o que pretendemos fotografar? A fotografia no estilo retrato tem a ver com estabelecer uma relação (ética, respeitosa, solidária) com o fotografado, de modo que ele seja um sujeito da foto e não um objeto na foto. Quando se trata de fotos de paisagem, porém, essa situação não está colocada, pois o foco não é o retrato de indivíduos (portadores de direitos), mas espaços públicos, que são apropriados pelas pessoas (e que, portanto, não fazem sentido se fotografados vazios).
Notemos que a diferença entre um estilo e outro pode, na maioria dos casos, ser dada pelo próprio enquadramento escolhido: por exemplo, no plano geral, usado mais frequentemente para as paisagens, o alvo não são pessoas específicas, mas o ambiente. Já no close, plano peito e plano tronco, onde a aproximação dos sujeitos é maior, há uma tendência para favorecer os retratos (é possível identificar pessoas nas fotos, bem como suas ações).
Também lembramos que, na Pedagogia da Imagem, nosso objetivo não é aprender a fotografar bem, ou a utilizar a tecnologia para fotografar bem – "apenas". Nosso foco é compartilhar conhecimentos e formas de narrar, através de imagens, de maneira que os próprios sujeitos-educandos narrem a si mesmos. Não somos nós as autoridades a falar de alguém, mas colaboradores e facilitadores para que os sujeitos falem por si mesmos, conosco. Assim, o problema ético de "estarmos usando a imagem de terceiros" não se coloca desta maneira, pois são os próprios indivíduos que produzem, analisam e validam a própria imagem. A questão ética a ser posta, então, é: as habilidades comunicativas e críticas que compartilhamos/ desenvolvemos coletivamente estão sendo suficientes para que os sujeitos vejam/ mostrem-se a si mesmos de maneira positiva, afirmativa, mas ao mesmo tempo solidária com as diferenças/ os diferentes?
Essa questão não se esgota de forma simplista e precisa ser debatida em todas as nossas oficinas, especialmente quando estamos com nossos educandos. Lembremos que, hoje, há câmeras de vigilância espalhadas nas ruas, condomínios privados e até mesmo nas escolas, sem que nos demos conta disso. Muitas vezes, não nos é dada a opção de abrir mão de nosa privacidade ou preservá-la. Além disso, precisamos debater com os adolescentes e as crianças a forma como veiculam a própria imagem nos sites, blogs e comunidades de relacionamento a que têm acesso, muitas vezes sem uma orientação de um adulto, expondo a si mesmos a riscos que não imaginam correr. Trata-se não de fornecermos elementos "morais", mas críticos e sensíveis para que cada um entenda as imagens-discursos que produz de si mesmo, os canais onde são veiculadas e seu alcance, bem como seus direitos e como defendê-los.
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